Mutações genéticas nos genes BRCA1 e BRCA2 são as mais conhecidas em pacientes com câncer de mama e ovário. Entenda o que são estas mutações e saiba como e qual a importância de identificá-las.
BRCA1 E BRCA2
BRCA1 e BRCA2 produzem proteínas supressoras do tumor. Essas proteínas reparam o DNA danificado e, portanto, desempenham um papel na garantia da estabilidade do material genético de cada célula. Quando um desses genes sofre uma mutação ou alteração, de forma que seu produto proteico não funcione corretamente, o dano ao DNA pode não ser reparado de maneira adequada. Como resultado, as células têm maior probabilidade de desenvolver alterações genéticas que podem levar ao desenvolvimento do câncer.
Mutações hereditárias específicas em BRCA1 e BRCA2 aumentam o risco de câncer de mama e de câncer de ovário em mulheres, mas também já foram associadas ao aumento do risco de outros tipos de câncer. Pessoas que herdam mutações BRCA1 e BRCA2 tendem a desenvolver câncer de mama e câncer de ovário em idades mais jovens do que aquelas que não têm essas mutações.
Uma mutação BRCA1 ou BRCA2 pode ser herdada de qualquer um dos pais. Se um pai possui a mutação, cada um de seus filhos terá 50% de chance de herdar a mutação.
MUTAÇÕES NO BRCA
Uma pequena porcentagem de pessoas (uma em 400 ou 0,25% da população) têm os genes BRCA1 ou BRCA2 mutados.
Mulheres com determinadas mutações genéticas têm um risco aumentado de câncer ao longo da vida. Estima-se que 55 a 65% das mulheres com a mutação BRCA1 desenvolverão câncer de mama antes dos 70 anos e que aproximadamente 45% das mulheres com uma mutação BRCA2 desenvolverão câncer de mama até os 70 anos.
A população feminina em geral, que não apresenta mutação genética, tem cerca de 7% de chance de desenvolver câncer de mama até os 70 anos. Esse risco ao longo da vida é cerca de 12%.
Isso significa que até os 70 anos:
- Em um grupo de 100 mulheres sem uma mutação BRCA1 ou BRCA2, cerca de 7 terão câncer de mama.
- Em um grupo de 100 mulheres com uma mutação BRCA1 ou BRCA2, 45 a 65 terão câncer de mama.
Vale lembrar que esses números representam o risco médio.
Isso quer dizer que toda mulher com mutação BRCA1 ou BRCA2 terá, obrigatoriamente, câncer de mama? Não. Muitas mulheres com a mutação não desenvolverão a doença. Isso porque, a mutação BRCA é um dos fatores que aumentará o risco dessa mulher vir a ter câncer, mas o desenvolvimento de um tumor, normalmente, depende de uma combinação de fatores. Por isso que a maioria dos cânceres de mama não está relacionada a mutações genéticas hereditárias.
As mulheres com mutação no gene BRCA1 apresentam um risco aumentado de câncer de mama triplo negativo mais agressivo e difícil de ser tratado. Ou seja, o câncer de mama triplo negativo é receptor de estrogênio negativo, receptor de progesterona negativo e HER2-negativo.
As mulheres portadoras da mutação BRCA2 tendem a ter cânceres de mama receptor de estrogênio positivo.
Uma mutação BRCA1 ou BRCA2 pode aumentar o risco de um segundo câncer de mama primário e, geralmente, ocorrem na mama contralateral. Para mulheres portadoras da mutação BRCA1 ou 2, a chance de um câncer de mama contralateral 10 anos após o diagnóstico do primeiro câncer é de cerca de 10% a 30% em comparação com cerca de 5% a 10% para mulheres sem uma mutação de BRCA1/2 diagnosticada com câncer de mama.
O risco ao longo da vida de um segundo câncer de mama contralateral primário é de cerca de 40% a 80% para mulheres portadoras de BRCA1 ou 2.
Esses dados podem ser alarmantes. No entanto, é importante observar que menos de 10% das mulheres diagnosticadas com câncer de mama têm uma mutação BRCA. Além disso, com a detecção precoce, a grande maioria dos casos de câncer de mama pode ser tratada com sucesso, ainda em pacientes com mutação BRCA1 ou BRCA2.
TESTES GENÉTICOS
O teste genético dá às pessoas a chance de saber se o câncer de mama ou o histórico familiar de câncer de mama se deve a uma mutação genética hereditária.
Atualmente vários testes genéticos estão disponíveis. Alguns deles procuram uma mutação específica no gene BRCA1 ou BRCA2 que já foi identificada em algum membro da família. Outros verificam todas as mutações conhecidas em ambos os genes. O teste multigênico usa o sequenciamento de última geração para procurar mutações em muitos genes que estão associados a um risco aumentado de câncer de mama e de ovário, incluindo BRCA1 e BRCA2, simultaneamente.
O DNA (geralmente de uma amostra de sangue ou saliva) é necessário para esses testes. A amostra é enviada a um laboratório para análise. Geralmente, leva cerca de um mês para se obter os resultados.
GERENCIANDO O RISCO
Várias opções estão disponíveis para gerenciar o risco de câncer em pessoas com uma mutação BRCA1 ou BRCA2 conhecida. Isso inclui rastreamento, cirurgia profilática (para redução de risco) e quimioprevenção.
Rastreamento. Algumas mulheres com teste positivo para as mutações BRCA1 e BRCA2 podem iniciar o rastreamento do câncer de mama em idades mais jovens e/ou fazer o rastreamento mais frequentemente do que as mulheres com risco médio para o câncer de mama. Por exemplo, alguns médicos recomendam que as mulheres portadoras de mutação no BRCA1 ou BRCA2 sejam submetidas a exames clínicos das mamas a partir dos 25 aos 35 anos de idade. E alguns grupos de médicos sugerem que as mulheres portadoras de mutação façam mamografia anual, a partir dos 25 anos até os 35 anos.
Os exames de rastreamento para o câncer de mama são feitos para detectar o câncer em pessoas assintomáticas. As pessoas portadoras de mutação nos genes BRCA1 e BRCA2 precisam ser rastreadas para câncer de mama mais cedo e com mais frequência do que outras mulheres. Elas também devem estar cientes dos sinais de alerta do câncer de mama.
Esse rastreamento pode aumentar a chance de diagnosticar câncer de mama em um estágio inicial e aumentar a chance de sucesso do tratamento. Estudos mostraram que a ressonância magnética tem sido mais eficaz do que a mamografia no diagnóstico de tumores, particularmente em mulheres mais jovens com alto risco de câncer de mama. No entanto, a mamografia também pode identificar alguns cânceres de mama que não são observados na ressonância magnética. Além disso, a ressonância magnética pode ser menos específica, ou seja, levar a mais resultados falso-positivos do que a mamografia.
Recomenda-se os seguintes exames para o rastreamento para pessoas com mutações nos genes BRCA 1 e BRCA2:
Exame clínico das mamas | Mamografia | Ressonância magnética | |
Até os 25 anos | Semestralmente | Não recomendado | Não recomendado |
Entre os 25 e 29 anos | Semestralmente | Apenas se a ressonância magnética da mama não estiver disponível. Anualmente | Anualmente (Se a ressonância magnética da mama não estiver disponível, mamografia) |
A partir dos 30 anos | Semestralmente | Anualmente | Anualmente |
Atualmente, não existem métodos eficazes de rastreamento para o câncer de ovário. Alguns grupos recomendam ultrassom transvaginal, exames de sangue para o antígeno CA-125 e exames clínicos para o rastreamento de câncer de ovário em mulheres com mutações BRCA1 ou BRCA2, mas nenhum desses métodos parece diagnosticar tumores de ovário em estágio inicial o suficiente para reduzir o risco de morrer. Para um método de rastreamento ser considerado eficaz, deve demonstrar a redução da mortalidade pela doença. Esse padrão ainda não foi cumprido para o rastreamento do câncer de ovário.
Os benefícios do rastreamento do câncer de mama e de outros cânceres em homens que têm mutações BRCA1 ou BRCA2 também não são conhecidos, mas alguns grupos de especialistas recomendam que os homens portadores de uma mutação se submetam a exames de mama regulares, bem como a testes para câncer de próstata.
Texto originalmente publicado nos sites National Cancer Institute (30/01/2018), National Breast Cancer Foundation (25/09/2020) e Susan G. Komen (25/02/2020), livremente traduzido e adaptado pela Equipe do Instituto Oncoguia.